terça-feira, 8 de setembro de 2009

GRITO

O grito grItou ao mundo

- Ouçam o grito calado
esse grito angustiado
de quem já não tem voz!

- Ouçam o grito profundo
o grito do outro mundo
do mundo que somos nós!

- Ouçam o grito daqueles
que sofrem por estarem sós.

Peso de mim

Se eu pudesse
ai que bom
tirava este peso
de mim
rompia-se o corpo
cansado
fazia-me voar
a mim
este espírito
atormentado
dobrado
ao peso do corpo
sem fim.

Transparências

O fumo azul diáfano toca de leve o meu pensamento. Acaricia-me. Sinto o perfume que a brisa me trás, de um campo liláz.
As pétalas do meu vestido confundem-se com a espuma da eternidade. Voo pelo horizonte numa nuvem de canticos suaves, cantados pelos duendes da bruma. Encontro a serpente de aneis dourados sentada no trono da ilusão
Transparências são o sonho de um condenado.

Contradições

Querias-me quando outro nome me davas
Quando outra boca beijavas
Quando me dilaceravas

Querias-me quando à noite cuspias
e dos gemidos, orgias
histórias, outros amores revivias.

Querias-me quando era tudo inventado
por ti, pelo teu passado revisitado.
Agora, do amor cansado, esqueceste
que bem perto, a teu lado
existe uma deusa escondida
por ti posta de lado, preterida
mergulhada num lago de vida
ond a vida já morreu.

domingo, 30 de agosto de 2009

Avó

Por onde andas avó com os teus cabelos de prata?
Deixaste a tua cadeira a balouçar no infinito do meu coração!
Para onde levaste as tuas mãos, o teu perfuma, a suavidade da tua pele?
As orquídeas estão em flôr. Sempre que as olho penso em ti, mais sinto-te por perto.
Porque deixaste a tua cadeira a balouçar no infinito do meu coração?
A tua partida sem avisar, só num sussurro criou o vazio numa parte de mim. Sempre que olho as orquídeas penso em ti e renasces num momento de sonho, que logo se apaga, porque está na minha frente a tua cadeira a baloiçar, a baloiçar no infinito do meu coração.

Gaiola dourada

Para lá do horizonte
há um horizonte sem fim
do tamanho da verdade
que é a saudade em mim
uma saudade inventada
das coisas que imagino
porque vivo engaiolada
numa gaiola dourada
a que chamam destino.

Para lá do horizonte
há um horizonte sem mim
do tamanho da verdade
que é a verdade sem fim
uma saudade inventada
porque nunca existiu
desta gaiola encantada
o horizonte fugiu!

Ferida no peito

Tenho esta ferida no peito
que me acompanha na vida
não sei se é meu o defeito
ou se é coisa parecida.
Sei que ando entristecida
sempre, sempre emudecida
tão cansada da vida.
Tenho esta ferida no peito
constantemente a sangrar,
contudo, camonho em frente
caga p´ra tudo, da gente
cega, perdida, dormente,
neste trite caminhar.

Linho branco

Linho branco onde me deito
bordado com fios de ternura
foi o tempo, foi a brancura
que te pôs assim macio?
Foi o gasto, foi a lonjura
de noites e noites a fio
em que tornaste a sua côr escura
em noites de desafio, a manotonia da vida, descolorida
em sonhos de desfastio
onde a imagem toma forma
povoa a solidão ao de leve
transforma o momento breve
num sono de ilusão

Chuva

A chuva cái monótona no meu dia. cái monótona e fria. Morna de sono aqui estou nesta letargia.
A chuva cái monótona e fria. Neste dia tão parado, tão calmo, tão cheio de malancolia, morna de sono aqui estou à espera de um novo dia.

Com asas

Com asas nas costas, alada
sentada na cadeira da ternura
vejo a vida com doçura
vejo a natureza a crescer
o perfume do mar a bater
no horizonte do céu
o vento do tempo a pairar
a luz no teu olhar
o calor do amor a avançar
sobre o meu colo cansado
tanto tempo amargurado
por não entender, tão ávida,
a dávida que é a vida!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Quimera

Cheguei ao cume da vida
passei a fase esquecida
porque louca, entontecida
tão depressa quis vivê-la.

Hoje montanha perdida
coberta de solidão
sonho o sonho, a quimera
dos anos de ilusão.
Mas conservo na minha mão
bemguardado o coração
como árvore já crescida
sedenta ainda de vida
de amor e de perdão.

Por ter voado tão alto
mais alto que a invenção
esta cabeça tão louca
nunca usou a razão.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Silêncio

O silêncio ergueu-se e muda fiquei
transida de frio e muda fiquei
espantada com a vida que nunca julguei
capaz de me dar um espinho tamanho
capaz de trazer o que nunca pensei.

O silêncio ergeu-se e naquele momento
percebi que a palavra, aquele lamento
contida num mundo de pensamento
era a chave perdida que nunca encontrei
para tornar a vida no que sempre sonhei.

O silêncio ergueu-se e muda fiquei
transida de frio e muda fiquei.

A música

Dancávamos devagar
os corações a palpitar,
a carne a sobejar,
tudo a rodopiar.
Era a paixão do momento,
os sentidos num tormento,
o extase a estravasar
duma música que sem parar
tocava ao sentimento
ao despudor
ao arrebatamento.

Foi nessa música de mar
com a lua a olhar,
sem vergonha e compaixão
que nos espojámos no chão
levantámps a poeira
soltámos o grito de dor,
dormimos a noite inteira.

Folhas no chão

Criaste um mundo de sonho
mas roubaram-te a ilusão,
voaste ao paraíso
cortaram-te a emoção,
ficaste com a asa partida
olhaste o espelho da vida
abriste de novo a ferida,
dolorosa, amarelecida
como as folhas no chão.

sábado, 25 de julho de 2009

Lembras-te de mim

A música toca devagarinho
quase em surdina
muito baixinho.

Não estás aqui perto de mim
mas onde estiveres
sei que é assim
ouves calado
lembras-te de mim
sorris embalado
com a ilusão
que ainda comandas
o meu coração.

Duas fadas

Somos como duas fadas
a quem tiraram o condão
a quem cortaram as asas
e tiraram o coração
a quem feriram de morte
neste mundo sem perdão
onde a palavra sorte
é só pura ilusão.

Alma gémea

Alma gémea
onde vagueias?
No mar da ilusão?
Encontrei-te no pensamento
perdi-te na confusão.
Esta vida não perdoa
a quem sonha com o coração!

Perfil

Nesse perfil incompreendido
olhos de imensidão
encontrei o desgosto
a dor em lenta combustão.
Casaste com o teu amor
perdeste a tua paixão.

Melro

O melro canta lá fora. Quem me dera ser melro para não ter a noção de fronteira, de barreira. Voar pelo horizonte da vida, entre uma aurora de professias e um crepúsculo de imensidão.

Ser melro é ter todas as cores e nenhuma, é o relâmpago de luz na plumagem, é o sol no bico amarelo. É ter a alegria na voz. É dá-la aos outros. É cantar mais forte e chegar mais depressa ao céu!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Absurdo

Absurda parece a vida

quando passa desabrida

por entre os dedos da mão

sem deixar uma razão

para essa amargura contida

que fica sempre dorida

na linha do coração

Foi bom

Foi bom. Hoje foi bom. Tudo estava diferente; Nós também, mas alguma coisa de comum nos estremecia. Eram as lembranças..., o passeio pisado de outros passos que também caminharam connosco em pensamento; Foram os projectos já vividos, os caminhos percorridos, a ternura que ficou ou a esperança que perdura?! Foi o amor...

sábado, 18 de julho de 2009

Eternidade

Certa noite vi um dia
que uma estrela luzia
por cima da minha cabeça
no céu azul de cetim
brilhava como marfim.

Cá em baixo eu sofria
talvez adivinhando o fim
dessa estrela que luzia.

Não existe eternidade!

Amizade

Falei contigo... engraçado,
lembrei o tempo passado
felizes de juventude
sorriamos à vida
sentiamos virtude.

Cabelos ao vento
dançando ao relento
cantávamos cantigas
sem sofrimento.

Esse tempo ficou
no meu pensamento
como o melhor de mim
num dado momento.

Hoje, recordo
com grande alegria
ter sido possível
num certo dia
sentir a beleza
sem ambiguidade
de uma amizade feliz
com sinceridade.

domingo, 12 de julho de 2009

Sonho de anjo

Como pétalas de uma flôr encantada

caídas num tapete de espuma

vi hoje, na bruma

os teus sonhos espalhados.


Tinham as cores tanta leveza

era tão pura a certeza

que uma fada ali sentada

com o espanto encimesmada

perguntou ao sol nascente:


" - Será que ainda há gente

que sonha um sonho de anjo

como este que aqui vejo?"


E o sol nascente sorriu

e com o dedo seguiu

o perfume do teu olhar.

Lume

Olho o lume, vejo a saudade de outro tempo que com suavidade me aconchega ao entardecer.

Vejo caras conhecidas, mãos queridas, o colo quente, o abraço de muitas vidas.

Vejo a ternura do olhar, o sorriso a despertar, a sabedoria de ser, a dor da despedida.

Vejo a minha vida a correr e a brevidade de ter, se um dia o lume se apagar.

Acordar

Segui a minha imagem e entrei.

Foi nesse bosque de frescura verde, ondulante, onde riscos de luz atravessavam o ar perfumado que me deitei numa cama de folhas. Apertei a erva com as mãos, ouvi os pássaros, senti o odor da humidade. Esqueci o tempo intemporal.

As copas das árvores rendilhavam o céu azul, o infinito.

Nesta solidão acompanhada ouvi a terra calada a cantar-me uma canção.

Foi assim que acordei.

sábado, 11 de julho de 2009

Mundo


Ontém fui à janela espreitar o mundo. Estava triste. Perguntei-lhe porquê? Ele mudo.

Hoje fui á janela espreitar o mundo. Não estava lá.

Se vires o mundo diz-lhe que a culpa não é dele é nossa.

Diz-lhe que não o temos sabido amar, mas que amanhã o vou buscar e com ele passear num campo de rosas. Vamos subir ao castelo do amor. Vamos navegar no mar verde da esperança da minha ilusão. Vamos correr, saltar, brincar, vamos encontrar o outro lado, o paraíso.

Se vires o mundo diz-lhe que estou à espera.

Sonho

Zangada com a vida fui passear no jardim da minha imaginação. Estava envolto em mistério.

Na penumbra do incosciente encontrei-te. Eras tu, essa imagem que sempre perssegui mas nunca cruzei na realidade. Cobrea-te o véu da sabedoria, andavas com harmonia e gestos de compreensão. As tuas formas eram perfeitas e a tua voz encantava-me. Nunca mais me aproximava e tu distante mas tão perto.

Nesse jardim de paraíso, onde tudo é possível, mais uma vez o nosso encontro foi adiado porque nesse momento perfeito deixei de sonhar.

Véu de maresia


Cobre-me um véu de maresia. A humidade cai. Esfria.

Cobre-me um véu de maresia...

Tenho os cabelos molhados, salgados, o coração perdido. Esfria.

Na penumbra dos meus dias ando às cegas procurando por ti. Sei que existes.

Na penumbra dos meus dias cobre-me um véu de maresia. Esfria.

Será esta uma manhã de nevoeiro?.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Quem me dera ser assim...

Atravessas a rua com o teu corpo de serpente mas macio, quente. A tua pele acetinada cheira a chuva molhada e nos cabelos tens as cores do arco-íris.
Como és feiticeira fazes um feitiço e transformas a vida com um sorriso.
Quem me dera ser assim, ter o teu gargalhar, o movimento de mar e amornar o que está frio.
Se um dia voltar a nascer, quero ter o teu andar, a tua voz a murmurar, a tua completa alegria e de manhã ao acordar espalhar estrelas no ar.
Se um dia voltar a nascer quero ter o teu olhar, o teu doce sussurrar e à noite quando me deitar a lua comigo levar e com ela navegar no eterno sonho do amor.

tributo

Sim vou-me embora. Acendo um cigarro e caminho, caminho... a noite vai chegando; É uma noite sem lua mas com o céu vivo de estrelas. Paro. Olho o chão. Está escuro. Volto-me para o infinito e ele cobre-me. Esse céu vivo de estrelas. Vejo nele reflectida a minha insegurança, o meu passado e ver é já conquistar, possuir.
Possuir porque o passado sou eu que tremelico como as estrelas. Conquistar porque caminho e vou em frente subjugando o futuro...
Sim vou-me embora. Acendo um cigarro. É numa noite sem lua mas com o céu vivo de estrelas que parto para a descoberta.

Transparências

Deixo-me transportar nesta corrente de leveza suave que me conduz ao outro lado. Ao bosque da frescura, onde o verde existe, a sombra acalma, os pássaros cantam, o sol espreita. A água límpida da minha vida corre ao contrário, para a nascente do mistério, onde mulheres com ancas largas dançam a dança do mundo, tremelicando pulseiras de sabedoria, cobertas de transparências que esvoaçam com a música do sonho, onde a côr se desfaz na penumbra do desconhecido.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Lembranças


Lembranças são fios de memória que se estendem até mim, como as tuas mãos. São carinhos que me faço, são tormentos que me rasgam, são momentos que ficaram e se desenrolam como novelo de tempo, se desenrolam..., sem pressa ou com a velocidade do relâmpago.
As lembranças atormentam-me incessantemente... Serei eu que as procuro como refúgio, tal e qual as tuas mãos?
Muitas vezes as lembranças são amargas. Dessas fujo assustada, escondo a cara nas tuas mãos.
As minhas lembranças vão dar sempre às tuas mãos, as mãos da minha memória.

Acerca de mim

A minha foto
Apaixonei-me pelo silêncio e a imensidão do deserto, olhei as estrelas e chorei sózinha, comigo mesma pela graça de estar viva.

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